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terça-feira, 30 de julho de 2013

Monsanto descarta fazer novos plantios de transgênicos na Europa

A Monsanto renunciou a plantar novos grãos transgênicos na União Europeia diante das resistências de vários governos e grupos ecologistas e batalhará, ao invés disso, para importar alimentos OGM de regiões como América Latina ou Estados Unidos.
"Não vamos continuar lutando para obter licenças para o cultivo de transgênicos na Europa", informou um porta-voz do gigante norte-americano da agroquímica.
Em troca, a companhia se dedicará a obter a aprovação da UE para importar suas variedades de sementes geneticamente modificadas colhidas nos Estados Unidos e na América do Sul, sobretudo, no Brasil e na Argentina, informou em um comunicado.
Também quer reforçar seu negócio de cultivos com sementes convencionais no continente e, para isso, investirá "centenas de milhões de dólares".
A Monsanto tinha solicitado licenças para o milho, soja e beterraba para açúcar. A informação foi confirmada pela Comissão Europeia que afirmou ter "tomado nota" da decisão.
Contudo, a Monsanto não retirará sua solicitação para renovar a aprovação de seu milho MON810, o único cultivo transgênico, atualmente, em forma comercial na Europa, sobretudo na Espanha.
Esta variedade tem como característica a resistência aos insetos lepidópteros que ataca a planta do milho, causando perdas estimadas em 30% da colheita.
Para que um transgênico seja autorizado na UE, deve passar uma avaliação sobre os riscos para a saúde e o meio ambiente e depois receber a autorização da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA).
Bruxelas já autorizou meia centena de OGMs (organismos geneticamente modificados) para a alimentação animal e humana, enquanto apenas dois transgênicos podem ser cultivados - o milho MON810 e a batata Amflora do grupo alemão BASF.
Contudo, a rejeição aos OGM na Europa pelos cidadãos foi contundente e levou vários países, entre eles França, Alemanha e Itália, a proibir nacionalmente as sementes transgênicas.
Depois de uma longa batalha para impedir que a UE permitisse o plantio dessas sementes transgênicas, os grupos ecologistas comemoraram o anúncio nesta quinta-feira.
"Isso é uma grande notícia para a ciência e a pesquisa europeia", disse Mark Breddy, do Greenpeace. "Nas últimas décadas, as sementes transgênicas demonstraram ser ineficazes e impopulares, com um risco inaceitável para a saúde e o meio-ambiente", acrescentou.
Tal era a oposição que, no começo do ano, a Monsanto anunciou que ia abandonar sua cruzada para semear OGMs na UE. A Monsanto se concentra agora em outros mercados como o da América do Sul, sobretudo, a Argentina e o Brasil.
O principal negócio da transnacional norte-americana na Argentina são as sementes de milho, de que o país sul-americano é o segundo exportador mundial, enquanto o glifosato (uma espécie de herbicida) para os cultivos constitui uma parte de suas atividades.
Problemas no Brasil
No Brasil, o gigante agroquímico já teve seus problemas.
A Monsanto anunciou em fevereiro que suspendia o recebimento de direitos sobre a soja transgênica Roundup Ready no país à espera de uma decisão judicial de uma ação iniciada por agricultores brasileiros há mais de quatro anos, acusando a empresa de "se apropriar de forma indevida" de 2% do produto da venda de sua colheita anual.
No ano passado, um juiz do Rio Grande do Sul decidiu a favor dos produtores e ordenou a Monsanto a devolver os royalties que recebeu desde 2004, pelo menos 2 bilhões de dólares. A Monsanto apelou da decisão.
O Brasil foi em 2011, atrás dos Estados Unidos, o segundo produtor e exportador mundial deste grão utilizado para alimentação do gado e fabricação de óleo e de biocombustíveis. A China é o principal comprador da soja brasileira.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Frio ameaça safra de trigo; preço dos alimentos pode subir, diz Cepea

O frio nos próximos dois dias pode colocar em risco 52% da safra de trigo do Paraná, maior produtor do cereal no país. A avaliação é do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, baseada  no risco de geada no Estado nesta quinta-feira (25) e sexta-feira (26).
Segundo Renata Maggian Moda, analista de mercado do Cepea, a geada é perigosa porque ela atingirá a fase mais sensível da plantação, quando ocorre a formação dos grãos. A analista não descarta que os derivados do trigo, como pães, massas e biscoitos, podem sofrer aumento de preço com a redução da oferta.
O Paraná é responsável pela produção de 2,6 milhões de toneladas de trigo do país, quase 50% do total produzido (5,6 milhões de toneladas). O Rio Grande do Sul produz outros 2,4 milhões de toneladas. Mas as lavouras gaúchas não passam pelo mesmo perigo porque o plantio está em estágio menos vulnerável.
Renata Maggian Moda informa que não há risco de faltar trigo no mercado, pois todos os anos o Brasil importa ao menos a metade do cereal que consome.
A analista diz que o país talvez tenha que aumentar as compras do Canadá e dos Estados Unidos porque a Argentina, o maior fornecedor, cultiva a menor área com o cereal (3,9 milhões de hectares) nos últimos cem anos.
Segundo ela, os produtores migraram de plantio em virtude da proibição da exportação de trigo imposta pelo governo argentino como forma de evitar uma crise de desabastecimento no país.

terça-feira, 23 de julho de 2013

70% do sal consumido no Brasil é adicionado aos alimentos pelo próprio consumidor, segundo levantamento da indústria

FOTO: Filipe Araujo/Estadão

O brasileiro consome duas vezes mais sódio do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e a maior parte disso deve-se à adição de sal de cozinha à comida pelos próprios consumidores, segundo um levantamento feito pela Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia). Apenas um quarto é proveniente de alimentos industrializados, segundo a pesquisa, que transfere para os consumidores a maior responsabilidade sobre a redução do consumo excessivo de sódio e dos seus efeitos malignos sobre a saúde.

“O grande inimigo é o sal comprado”, disse ao Estado o presidente da Abia, Edmundo Klotz. “Não nos isentamos da nossa parcela de responsabilidade, mas é uma verdade que precisa ser dita. Não somos nós que estamos envenenando as pessoas.”
O estudo foi compilado pela Abia, mas é baseado em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – mais especificamente, da Pesquisa Anual de Serviços de 2009 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009. “Inventava-se um monte de histórias sobre nós e não tínhamos uma pesquisa para rebater essas críticas. Então pegamos uma pesquisa neutra, feita pelo governo por outros motivos, e achamos as respostas que precisávamos”, afirma Klotz. “Os dados são incontestáveis e altamente confiáveis.”
Segundo o estudo, o brasileiro consome em média 4,46 gramas de sódio por dia (o limite recomendado pela OMS é 2 gramas), sendo que 23,8% disso é ingerido por meio de produtos industrializados ou semielaborados (como macarrão, pães, salsichas, bolachas, salgadinhos, carne ou frango temperados), 4,7% via alimentos in natura (como frutas e verduras) e 71,5%, via sal de cozinha, que é adicionado à comida na forma de tempero.
“É basicamente na sua casa que você está consumindo muito sal”, diz o endocrinologista Alfredo Halpern, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, convidado pela Abia a comentar o estudo. “O mais importante é educar o consumidor; não adianta só jogar a culpa na indústria porque isso não vai resolver o problema.”
“O vilão não é a indústria, é o estilo de vida”, diz o médico Daniel Magnoni, chefe dos serviços de Nutrologia e Nutrição Clínica do Hospital do Coração (HCor). Um dos principais problemas, segundo ele, é a tendência cada vez maior de as pessoas comerem fora de casa, em lanchonetes, padarias e restaurantes self-service. “O alimento fora de casa costuma ter mais sal, porque é mais ao gosto do brasileiro”, diz.
Questionamentos. Outros especialistas discordam do cenário apresentado pela pesquisa. “Não é isso que a gente vê no dia a dia do consultório ou nas avaliações clínicas do hospital”, afirma o médico Luiz Bortolotto, diretor da Unidade de Hipertensão do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da USP. “A fonte principal costuma ser o produto industrializado, inclusive o pão francês.”
“É um parecer da indústria. Não concordo do ponto de vista médico”, avalia a nutricionista Cristiane Kovacs, responsável pelo Ambulatório de Nutrição Clínica do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. “Não é essa a realidade que vemos nas entrevistas com os pacientes. Quando você coloca tudo na ponta do lápis, o maior vilão é o alimento industrializado.”
Ela chama atenção para o fato de que o sódio, por si só, não tem sabor (é usado na indústria principalmente como um conservante), e por isso muita gente consome a substância sem saber, acreditando que o que faz mal à saúde é o sal. “O paciente reduz o sal na comida, mas acaba comendo sódio de outras maneiras”, explica Cristiane. Um erro comum, segundo ela, é trocar o sal de cozinha por temperos prontos, industrializados, que possuem alto teor de sódio. Por isso, é importante olhar o rótulo dos produtos antes de consumi-los – e não apenas dos produtos salgados. “Até adoçante tem sódio”, aponta Cristiane.
Os alimentos com maior teor da substância, segundo ela, são os prontos para consumo e com prazo de validade mais longo (que utilizam o sódio como conservante), como salsichas, nuggets, bolachas e salgadinhos. “As mães precisam pensar muito na hora de preparar a lancheira dos filhos”, alerta.
“Todo mundo tem culpa, a indústria, o governo e o consumidor”, diz a nutricionista Marcia Fideliz, presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran). “Ainda que a parcela da indústria seja menor, isso não a exime de culpa. Tem um monte de produtos no mercado com muito mais sal e sódio do que deveria, porque assim fica mais gostoso e é mais fácil de vender. Por que só lançam produtos com sal? Por que não oferecem opções mais saudáveis para o consumidor?”
Acordos de redução. Nos últimos dois anos, a indústria assinou com o Ministério da Saúde três acordos para redução de sódio em uma série de alimentos, incluindo macarrão instantâneo, pães, bolos, salgadinhos, cereais matinais, margarina, maionese, caldos e temperos preparados. Os acordos estabelecem limites máximos de sódio para cada tipo de produto, de modo que o porcentual de redução exigido varia de acordo com os teores de cada marca.
No caso dos biscoitos doces recheados, por exemplo, o teor máximo acordado (para ser atingido até 2014) é de 265 miligramas de sódio para cada 100 gramas de alimento, o que exigirá uma redução de até 55% dos teores atuais, no caso de algumas marcas, segundo informações da Abia. Nas margarinas vegetais, o corte poderá chegar a 56% até 2015, enquanto que no pão francês, a redução média chegará próximo de 10%.
As metas são estabelecidas com prazo de cumprimento de dois anos. Um quarto acordo está sendo negociado agora para redução de sódio em embutidos, laticínios e refeições prontas.
Segundo a coordenadora-geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Patricia Jaime, os produtos selecionados são aqueles que mais contribuem para o consumo de sódio na dieta da população.
O objetivo é reduzir gradualmente os níveis de sódio dos alimentos brasileiros, até atingir os níveis mais baixos praticados no mundo. “Não dá para fazer uma redução drástica de uma vez só; tem de haver um tempo de adaptação do paladar do consumidor e das tecnologias de produção na indústria”, ressalta ela, lembrando que o sódio é um ingrediente básico de consistência, estabilidade e conservação dos alimentos.
Patricia não se surpreendeu com o números da Abia. Ela concorda que o sal de cozinha tem uma participação significativa no consumo de sódio, mas observa que a contribuição dos alimentos industrializados vem aumentando nos últimos anos e tende a continuar crescendo, por causa dos hábitos das pessoas de comer “na rua” e de consumir cada vez mais alimentos preprocessados – mesmo dentro de casa –, por causa da praticidade. “Se você comparar a participação dos alimentos industrializados na POF 2002-2003 com a da POF 2008-2009, houve um aumento de quase 20%”, diz.
O estudo da Abia considera apenas os resultados de 2008-2009, que é a POF mais recente. A coleta de dados da próxima pesquisa do IBGE começará em 2014, para ser publicada em 2015, segundo Patricia. “Não há nada que sinalize que haverá uma redução dessa tendência”, diz ela.

FONTE: ABIA

Perigos para a saúde: Hipertensão é o principal problema associado
O consumo excessivo de sódio aumenta consideravelmente o risco de doenças cardiovasculares, como a hipertensão arterial, que são a principal causa de morte no Brasil. “Sódio em excesso mata”, resume, categoricamente, o médico Daniel Magnoni, do Hospital do Coração (HCor). “Não é que você vai ter um enfarte no dia seguinte de comer uma batatinha com sal, mas você vai ter mais doenças e seu risco de morte vai aumentar.”
O sódio retém água no sangue e em outros tecidos, causando “inchaço” e elevação da pressão arterial. O risco é especialmente alto para pessoas que são geneticamente mais “sensíveis ao sal”, que representam entre 15% e 20% da população, segundo o especialista Alfredo Halpern, da Faculdade de Medicina da USP. Nelas, há uma relação direta entre o consumo de sódio e a hipertensão, enquanto que, em outras pessoas, o sódio aparece dentro de um menu de substâncias associadas a maus hábitos alimentares que levam à obesidade e a uma série de doenças associadas, como a diabetes e a arteriosclerose.
Na família da dentista Angela dos Santos Siqueira, por exemplo, vários desses fatores estão presentes. O marido de Angela é hipertenso e uma das três filhas, de apenas 11 anos, é obesa e já apresenta sintomas de diabetes e pressão alta. A família nunca teve hábito de botar sal na comida, mas também não prestava atenção ao sódio contido nos alimentos industrializados. “Quando reduzimos o consumo desses produtos houve uma melhora significativa nos exames”, conta Angela.
Com orientação de uma nutricionista, ela substituiu os alimentos industrializados por um cardápio mais “natural”, à base de vegetais, peixes e carnes frescas, preparadas com tempero caseiro. Salsichas, linguiças e frios sumiram do livro de receitas da família. “Até faço uma batatinha-frita, mas não é de pacote, é feita em casa, da batata mesmo. Não compramos mais quase nada processado”, diz Angela. “Confesso que para mim, na correria do dia a dia, era muito mais fácil assar uns nuggets ou cozinhar umas salsichas do que fazer o que a nutricionista pede, mas não dava mais.”
O ferramenteiro aposentado Reinilton Pereira Guedes, de 64 anos, demorou um pouco mais para aprender a lição. Hipertenso desde 1995, ele sempre soube que consumir muito sal fazia mal à saúde, mas teimava em não reduzir o consumo.
“Era por teimosia mesmo; gostava de tudo bem temperado”, admite Guedes. Dois meses atrás, resolveu, finalmente, seguir as orientações médicas do Instituto do Coração e cortou radicalmente o sal e a gordura da alimentação. O resultado foi imediato: “Perdi 11 quilos e minha saúde melhorou muito”, conta. “Até a quantidade de remédio diminuiu.”
O saleiro da casa foi abolido. Agora, Guedes só compra sal em sachês, “para controlar a quantidade”, e come até salada sem nenhum tempero. “No início eu sentia uma grande diferença no sabor, mas agora já acostumei. A alface eu só lavo; não coloco nada, e mesmo assim desce que é uma beleza”, diz.


ENTENDA A DIFERENÇA
Sal e sódio são coisas diferentes: Sal (cloreto de sódio) é uma molécula formada de cloro e sódio (NaCl), e o que dá o sabor salgado a ela é o cloro, não. O sódio, por si só, não tem sabor.
O que faz mal à saúde quando consumido em excesso é o sódio, não o sal. O sódio está presente em quase todos os alimentos industrializados; às vezes associado ao sal, às vezes não. É usado como conservante, principalmente, e também para dar consistência a determinados alimentos.
Cada 2,5 gramas de sal (uma colher) contém 1 grama de sódio.




terça-feira, 16 de julho de 2013

Guia quer educar a população para que se atente ao valor nutricional dos alimentos

Mudança busca adequar a dieta aos hábitos alimentares do brasileiro e valorizar produtos regionais

Guia quer educar a população para que se atente ao valor nutricional dos alimentos Reprodução/Departamento de Nutrição da USP
Foto: Reprodução / Departamento de Nutrição da USP






A pirâmide alimentar que norteia o Guia Alimentar Brasileiro do Ministério da Saúde está mudando. Foram inseridos novos alimentos com alto valor nutricional, com o objetivo de adequar a dieta à realidade e aos hábitos alimentares do brasileiro, fornecer à população informações nutricionais de modo acessível e valorizar os produtos regionais. 

A nova pirâmide, apresentada no final de junho no 5° Congresso Brasileiro de Nutrição Integrada (CBNI), foi elaborada pela equipe da pesquisadora Sonia Philippi, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP. 

— Os hábitos alimentares dos brasileiros mudaram, contribuindo para o aumento da obesidade no país. O objetivo da readequação não foi apenas se adaptar a essa nova realidade e à disponibilidade de alimentos, mas também educar a população para que se atente ao valor nutricional de cada alimento — diz Sonia. 

Dados do IBGE e do Ministério da Saúde indicam que o peso dos brasileiros vem aumentando preocupantemente. O percentual de homens adultos com excesso de peso saltou de 18,5% para 50,1%, enquanto o índice de acima do peso passou de 28,7% para 48%. 

O que mudou
No desenho atual, os alimentos estão distribuídos em oito grupos e quatro níveis, conforme o nutriente que mais se destaca na sua composição. Para cada grupo são estabelecidos valores energéticos, fixados em função da dieta e das quantidades dos alimentos, permitindo estabelecer os equivalentes em energia (kcal). 

Uma alimentação saudável deve ser composta por quatro a seis refeições diárias, distribuídas em três refeições principais (café da manhã, almoço, jantar), com 15% a 35% das recomendações diárias de energia, e em até três lanches intermediários (manhã, tarde e noite), com 5% a 15% das recomendações diárias de energia.

sábado, 13 de julho de 2013

Atmosfera do futuro diminuirá produção de alimentos, diz pesquisa da USP

Em maio foi atingido o recorde de concentração de dióxido de carbono no ar, 400 partes por milhão -- e este patamar deve ser comum nos próximos anos. Mas na prática, o que ele significa? Redução na produção agrícola de alimentos como o arroz, feijão, soja, milho e trigo, segundo pesquisadores do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura), unidade da USP (Universidade de São Paulo) em Piracicaba, que simularam um ambiente saturado de CO2.
Já a cana-de-açúcar e as pastagens teriam incremento na produção com o aumento da concentração do CO2. Mas antes de ver um "lado bom", Adibe Luiz Abdalla, professor do Cena/USP e orientador do trabalho, faz um alerta: a braquiária, gramínea largamente utilizada para alimentação de gado, apresentou crescimento 20% superior do que as plantas em ambiente normal, porém esse crescimento também tornou o capim menos digestível para o animal.
Com mais gás carbônico, a planta produz 5% menos folhas e tem os talos, que têm fibras indigestas,  aumentados em 8%. Assim, a braquiária perde valor nutricional e aumenta ainda mais a emissão de metano pelos bovinos, o que significa mais gases do efeito estufa.
Os cientistas criaram uma área controlada onde a concentração do dióxido de carbono na atmosfera seria de 550 ppm (parte por milhão), o que corresponde a estimativa que seria alcançada em 30 anos. Atualmente, temos entre 370 e 390 ppm na atmosfera.
"A elevação de CO2 aumenta a fotossíntese e a produção de biomassa na braquiária", explica Abdalla. Porém, o algodão também sofrerá com uma menor produtividade.
Outra pesquisadora da Embrapa Jaguariúna, local onde foi feito o experimento, está avaliando o impacto no café e a qualidade do grão. Já se sabe que com o ambiente modificado a planta pode crescer e produzir mais, contudo a qualidade do grão e a fragilidade para doenças também tendem a aumentar, o que coloca os pesquisadores em alerta.
O campo da Embrapa, que fica no município de Jaguariúna/SP, é onde está localizado este experimento. A área possui 12 redondéis, com 10 metros de diâmetro, nos quais seis são equipados com injeções de C02 em seu interior, criando a atmosfera de CO2 elevado. A outra metade possui atmosfera ambiente. 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A comida do futuro

Hambúrgueres criados em laboratório, pizzas impressas em casa, tomates roxos com propriedades anticâncer ampliadas. Dentro de décadas, nossos pratos terão os mesmos nutrientes de hoje. Mas o aspecto vai ser bem diferente



Você chega em casa cansado, tira do congelador um pacote de almôndegas desenvolvidas em laboratório. Digita na impressora 3D o cardápio que vai acompanhar: uma pizza feita de ingredientes em pó. E separa na geladeira dois tomates roxos para fazer uma salada, salpicada com um produto que tem gosto de ovo, mas na verdade é feito de gergelim. Bom apetite, este vai ser o jantar dos anos 2050.
No século passado, os futuristas imaginavam que a comida da virada do século seria composta por uma série de pílulas — ninguém perderia tempo preparando uma salada quando todos os nutrientes necessários estivessem ao alcance da mão. "Em cem anos, as pessoas vão se alimentar exclusivamente com pílulas sintéticas", disse a escritora e ativista Mary Elizabeth Lease, em 1893. Nada mais improvável. "Nunca vamos abrir mão do prazer de preparar uma refeição, mesmo que seja usando uma impressora e não um fogão. A combinação de aromas e cores de um prato e o convívio ao redor da mesa com a família e os amigos são tão importantes hoje quanto há 3.000 anos", afirma o agrônomo canadense Christophe Pelletier, autor de Future Harvests, livro que tenta prever como a humanidade vai se alimentar daqui a 37 anos.
Nove bilhões de bocas para alimentar — Algumas tradições vão mudar por um motivo simples: em quatro décadas, a humanidade vai ter ultrapassado os 9 bilhões de habitantes, 2 bilhões a mais do que atualmente. Em 40 anos, o planeta vai ter recebido mais uma quantidade de humanos equivalente à soma de uma China e dois Estados Unidos hoje. Vai ser preciso gerar comida o suficiente para cada um dos principais grupos alimentares — vitaminas, sais minerais, fibras, proteínas, carboidratos egordura. Arroz, por exemplo, não será um problema: com dinheiro da Fundação Bill Gates e suporte da Academia Chinesa de Ciências da Agricultura, o agrônomo chinês Zhikang Li criou uma variedade que cresce rápido, produz mais grãos e é extremamente resistente a inundações, secas, pestes e insetos. São as proteínas de origem animal que representam o maior desafio.
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação prevê que, em quatro décadas, o aumento da quantidade de terras usadas para a pecuária teria de ser da ordem de 70%, de 34 para 57,8 milhões de quilômetros quadrados, ou quase três Brasis. Impossível. "Não vamos conseguir produzir carne em quantidade suficiente para toda a população. Os bifes como conhecemos hoje vão ser raros e caros", diz a britânica Morgaine Gaye, especialista em tendências do mercado de alimentos e professora na Nottingham Trent University.
Alternativas — Algumas alternativas já existem, e são mais sofisticadas do que os produtos à base de soja. Depois de 10 anos de desenvolvimento em parceria com a Universidade do Missouri, a startup americana Beyond Meet desenvolveu um composto de ervilhas que, depois de processado, fica muito parecido com um pedaço de carne. Com a vantagem de não ter colesterol, gordura saturada ou os hormônios ministrados aos animais. O resultado é tão parecido com carne de frango que já enganou consumidores submetidos a testes cegos. Os ovos também já podem ser substituídos por um pó esverdeado da Hampton Creek Foods, de São Francisco, que tem o gosto do ovo comum e pode ser usado em bolos, saladas e doces. Mas é feito a partir de uma base de gergelim.
Estes produtos, entretanto, não vão dar conta da demanda em larga escala. Uma das soluções mais viáveis para o problema da demanda global por proteínas nas próximas décadas está nos insetos.

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/a-comida-do-futuro

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Brasileira descobre que a casca de banana pode despoluir água contaminada

    A casca de banana pode ser um dos resíduos mais promissores no processo de despoluição da água contaminada por efluentes radioativos, de acordo com uma pesquisa desenvolvida pela química brasileira Milena Boniolo, especialista no tratamento de águas residuais.

    Para além de ser uma alternativa à luta contra a superlotação dos aterros, a utilização da casca da banana para livrar a água de metais pesados é uma das opções mais viáveis e baratas para as indústrias brasileiras.

    Milena Boniolo, que publicou esta teoria na sua tese de mestrado, está agora procurando pequenas empresas dispostas a aplicar esta técnica.

    “Esta foi uma descoberta que eu fiz numa época em que trabalhava no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares. Numa das minhas experiências fiz uma farofa de casca de banana e percebi que, ao jogá-la na água, ela atraia para si os metais pesados presentes neste recurso”, explicou Boniolo.

    “Fiquei tão fascinada com a descoberta que foi este o tema do meu mestrado. Ao investigar melhor o fenômeno, descobri que a reação química acontecia porque a casca da banana possui moléculas de carga negativa que atraem para si substâncias carregadas positivamente, como os metais pesados”, continuou a química de São Paulo.

banana-Abre


    A pesquisadora chegou à casca de banana por acaso. “Soube que, na Índia, utilizavam a palha do arroz – um alimento muito comum no País – para remover o corante da água. Depois, tentei perceber qual a comida que não é aproveitada a 100% no meu País e que poderia ser usada na descontaminação da água. Então, vi na TV uma reportagem sobre o desperdício de alimentos, com dados de 2008, que dizia que quatro toneladas de banana eram atiradas ao lixo só na Grande São Paulo. Era a solução sustentável que eu procurava”, revelou Boniolo.

    O processo é simples:

    Para potencializar as propriedades da casca da banana é preciso deixá-la exposta ao sol por dias e, em seguida, triturá-la e peneirá-la. A farofa que se forma é colocada na água para atrair para si os metais pesados. O foco do meu estudo foi o urânio, já que entre os objetivos do Ipen estão as pesquisas nucleares, mas a casca de banana também é capaz de atrair da água outros metais pesados que impactam a saúde humana e o meio ambiente, como o cádmio, o níquel e o chumbo.